07 março, 2009

1º EPISÓDIO - VEREDICTOS


de Fernando Rezende
A solidão que me atormentava a alma naquele julho gelado era uma solidão estranha, diferente das que havia sentido em outros tempos de minha vida angustiante. Era assim como um não deixar em paz, um tormento constante que parecia não ter fim. Os olhares que já me incriminavam, só por assim ser, passaram a me acompanhar pelas ruas nas poucas vezes em que saía do escuro do quarto ou mesmo desse refúgio de sombras. A solidão desta vez parecia disposta a arrancar meu coração pela boca. Minha alma talvez viesse junto dele, pulsando num desafogo a cada batida póstuma. Nada sei a respeito de liberdade, nunca a tive. Nada sei de entendimento, nunca fui em verdade compreendido por entes queridos e odiados. Fizeram-me vítima de um julgamento, veredicto mesquinho de narcisos. Nada sei sobre vida na realidade, pois sobrevivi, e quem sobrevive, não tem condições para gozar a plenitude do que é o viver.
Nasci já sendo julgado pelo atraso de meses e pela rapidez com a qual fui meter a cara enxerida nesse mundo de juízes. No berço então, comecei a ser julgado ao bel prazer de meus pais e irmãos que detinham o peso dos anos e a experiência de andar pela porcaria do mundo em suas barbas. Nunca gostei deles, e para eles, sempre rendi desprezo. Havia um avô, esquecido em uma cadeira de balanço, que falava comigo. Dizia-me que as coisas eram assim e que as pessoas não tinham a real consciência do que faziam umas para as outras. Eu ouvia apático, inerte, assim como um animal a observar em sua irracionalidade um rio passar e não conseguir alterar, tampouco entender seu curso. O avô dizia essas coisas. Para ele também, os juízes tinham vários veredictos a fazerem, tinham vários dedos em riste e ainda, olhares assim como os que para mim rendiam, prazerosamente.
Uma das poucas vezes que saí de casa, foi para ver meu avô que saiu também, da cadeira de balanço, sua cadeira de réu por anos a fio, para uma urna no mausoléu da família. Ainda que o vento frio castigasse minha carne, assoviando e açoitando as árvores do cemitério, fiquei parado olhando, refletindo tudo o que ele dissera-me, todos os alertas e ressalvas que havia feito. Em verdade, hoje, já não me lembro muito do rosto dele, e, quando olho para a cadeira que jaz agora como entulho no porão, pouca coisa surge em minha mente. Aceitei o fato de que essa dor é constante aqui, essa humilhação que arde como fogo, enrubescendo nossas faces e esfriando nossa alma é também ao seu modo, constante e tangível, real. Essencialmente refinada ao ponto de sermos hospedeiros escolhidos por esse parasita criado em incubadoras existente em mentes pérfidas, perniciosas e egoístas. É disparado por armas que se camuflam em veredictos e “verdades” frias.

Não perca o próximo episódio de 'Veredictos'. Neste próximo sábado (14) ás 2h, aqui no BRTV!

Um comentário:

EU SOU ASSIM disse...

antony o amor que não morreu.

tema central:léo se apaixona-se pelo seu melhor amigo antony(tony);mas na cabeça de tony os dois são quase dois irmão... até que dertinado momento léo fala desse amor em uma festa, no memento que o son para.todos ouvem o que ele diz....

os dois são separado por dez anos.
tony casa,léo fica sua espera.
eles se reencontram ...
a familia de tony nunca aceitou ter filho gay.
a esposa de tony tenta mata léo;
léo fica entre a vida e a morte, o unico que pode salvar a vida de léo
é o pai de tony ,que odeia léo...

acredito eu que essa sera a primeira web-serie que fala do amor de dois homens de uma forma verdadeira sem falar de sexo ou droga.
fala tb do preconceito,do poder do dinheiro.

não sou escritor mas sou um aventureiro;que adora desafio... estou analisando proposta de onde publica a minha primeira web-serie...
gosto de temas fortes,que levam as pessoas a pensarem.