Calçada em frente ao setor de desembarque do Aeroporto de Congonhas, São Paulo, meio-dia. Irineu acerta a posição do corpo na sessão de fotos para esta reportagem do R7 e solta um comentário:
- Meu rapaz, Deus tá mandando um sol de derreter couro de jegue, não é verdade?
Diante do sorriso contido do repórter, Irineu emenda:
- Sei o que você vai argumentar. Vai dizer que a última pessoa do mundo que pode reclamar de chateação por causa de foto sou eu, não é isso? Não é?
Irineu é o zelador Irineu Bernardo da Silva, 50 anos, caçula dos 21 filhos de um ferroviário pobre e de uma dona de casa de Gameleira, no interior de Pernambuco, casado, pai de um jovem de 15 anos. Mas deixe de lado o Irineu. Chame-o de Zé Congonhas. Ele vai adorar.
Zé Congonhas é uma dessas figuras impagáveis que transformam a própria vida – e, felizmente, parte da dos outros – em coisas um pouco menos chatas e bem mais agradáveis do que a média.
Desde 1989, em seus finais de semana livres, folgas, férias e feriados, ele faz longos plantões no Aeroporto de Congonhas, com pelo menos 12 horas de duração cada um.
O objetivo, a meta de Zé: ser fotografado ao lado de artistas, cantores, jogadores de futebol, humoristas, enfim, todo o tipo de personalidade.
E não pensem que tudo é feito assim, jogado, de qualquer jeito. Nosso Zé tem figurino exclusivo para a atividade: camisas de manga comprida de cores fortes, arremedo plastificado de chapéu panamá e um cordãozão grossão de aço.
Coisa linda. Afinal de contas, nosso Zé precisa estar bonito diante da turma do sucesso. “E ninguém, muito menos gente da fama, merece esculacho”, ele completa. Com grande, absoluta e inteira razão.
Apenas tirar uma foto roubada do famosão sozinho, para ele, vale nada não. Conta zero. Está por fora. O negócio do nosso Zé Congonhas é abordar o figurão, pedir a devida autorização, entregar sua digital Sony com zoom de 12 vezes a um gaiato que esteja próximo e dar a senha célebre:
- Você tiraria uma foto minha ao lado desse nosso amado artista, por favor?
De 1989 até hoje, são mais de 6.000 imagens registradas ao lado de cerca de 4.000 artistas (veja galeria de fotos). Tanta experiência deu a ele condições de criar um guia de personalidade. Nele, nosso caçador de fotos divide os famosos de acordo com a reação de cada um ao ser abordado por ele. Há o Artista Me Engana que Eu Gosto, o Bomba, o Celular, o Jatinho, o Povão, o Sorriso Maroto e o Chega Mais.
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