23 maio, 2009

A televisão, educa ou nos manipula?

"A televisão me deixou burro, muito burro demais.” Essa frase da música “Televisão”, do Titãs, retrata o papel que o aparelho exerce na vida das pessoas: já é um membro da família.

Hoje, no Brasil, existem quase 54 milhões de aparelhos em 38 milhões de domicílios. Esse número coloca o País como o segundo das Américas em número de televisores, o que corresponde a 15% do continente. Isso não quer dizer que o povo brasileiro seja beneficiado por essa realidade. Principalmente, do ponto de vista cultural.

Para fugir do estereótipo de que a televisão não tem nada a oferecer, a MTV (Music Television) promoveu uma campanha que destoa das outras emissoras brasileiras. Em 2004, o presidente da MTV, André Mantovane, criou o texto de uma vinheta que incentivava a leitura. Nela, o locutor dizia: “Tédio, falta de criatividade, falta do que fazer, burrice e conformismo. Desligue a televisão e vá ler um livro!”.

A propaganda tomou repercussão nacional. Inúmeras cartas e e-mails chegaram à emissora, comentando a iniciativa. A MTV resolveu ampliá-la e hoje a programação sai do ar por cerca de 15 minutos com a frase: “Desligue a TV e vá ler um livro” inserida em um plano de fundo preto.

Segundo o redator de criação da emissora, Mauro Dahmer, “o principal objetivo da vinheta era questionar o próprio uso da TV e da mídia, provocando em forma de brincadeira, além de chamar a atenção para a importância do livro”. Para ele, a iniciativa mostrou honestidade para com os telespectadores, além de reforçar a identidade criada pela emissora.

Dados do Ibope apontaram que 1.259.491 pessoas assistiram à vinheta entre 1º e 8 de novembro de 2004, quando entrou no ar a segunda fase da campanha. Cerca de 8% desse total (100.346 espectadores) desligaram a TV – não mudaram de canal, e sim, desligaram. Considerando apenas o público-alvo do canal (de 15 a 29 anos, classes A e B), essa porcentagem aumenta para 14%, ou seja, das 289.819 pessoas neste perfil, 41.586 desligaram o aparelho.

A professora Sandra Reimão, do curso de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Metodista de São Paulo, acha interessante a idéia da MTV, mas não gosta da forma como é apresentada. “Ela coloca a TV e o livro como coisas opostas (ou leia ou veja TV). É negativo fazer essa contraposição porque esses dois veículos não são opostos”, disse.

Em sua última publicação, “Livro e Televisão – Correlações”, Sandra faz um levantamento histórico de junções entre os dois veículos. Para ela, é uma parceria que só traz benefícios. “Cada vez mais eu me convenço de que a TV pode agir junto com a literatura, de forma simultânea e em prol de muitas coisas, inclusive de valores culturais”, concluiu.

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