10 maio, 2010

Mateus Solano diz que trabalhou dobrado, mas não ganhou por dois

Nos oito meses em que encarnou Jorge e Miguel em “Viver a Vida”, Mateus Solano não teve como não se apegar aos gêmeos. Afinal, ao contrário do resto do elenco, que trabalhava 44 horas por semana, para incorporar o metódico arquiteto e o médico brincalhão, o ator brasiliense gravava, em média, 88 horas semanais.

“Trabalhei o dobro de cada ator. Só não ganhei dobrado nem tive tempo de fazer outros trabalhos. Mas valeu a pena”, garante, entre risos, admitindo que ao final da trama de Manoel Carlos, no dia 14 de maio, deve demorar um pouco para se livrar da presença dos irmãos em sua vida. “Quero ficar pelo menos um mês sem ouvir falar de Jorge e Miguel”, confessa, às gargalhadas.

Parte do cansaço de Mateus se deve à extrema dedicação com que ele viveu os gêmeos, donos de personalidades completamente diferentes. Isso porque, para encarnar a dupla, o ator precisou não apenas criar dois comportamentos opostos, como também se desligar rápido de um personagem para entrar no outro.

“Geralmente, gravava cenas como Jorge e, logo em seguida, como Miguel, ou vice-versa. Foram raros os dias em que gravei como um só”, lembra. Apesar de parecer difícil para quem assiste desligar-se de um papel e logo depois entrar em outro, Mateus assegura que não teve dificuldade. “Tive várias coisas que me ajudaram. O Jorge usava a gola abotoada até o pescoço. Isso já me fechava. Também tinha o paletó, que dava a ele uma coisa vertical. Já o Miguel era horizontal”, compara.

Veterano no teatro, antes de atuar em “Viver a Vida”, Mateus pouco fazia televisão. Embora tenha participado de algumas produções da Globo, foi com o Ligador, personagem criado por uma empresa de telefonia móvel para uma campanha publicitária, e com o compositor Ronaldo Bôscoli, papel que interpretou em “Maysa – Quando Fala o Coração”, que ele passou a ser notado pelo público. Afinal, na ocasião, também foi muito bem criticado pelo seu desempenho na minissérie.

“Não acho que roubei a cena em ‘Maysa’. Se não fosse a Larissa, não teria feito o Bôscoli”, minimiza, com ar humilde, referindo-se à Larissa Maciel, protagonista da produção.

A poucos dias do final de “Viver a Vida”, Mateus ainda se diverte com a repercussão de seus personagens nas ruas. O ator conta que, até hoje, ainda tem gente que pensa que os irmãos são interpretados por dois atores diferentes.

“Outro dia, participei de um chat na Internet e a moça que o mediava me disse que a tia dela achava ‘aqueles dois atores que representavam os gêmeos ótimos’. É o melhor elogio que posso ter”, orgulha-se, jurando que não tem “um favorito” entre os irmãos.

“Tem gente que acha que prefiro o Jorge. Mas tenho um carinho igual pelos dois. É que não preciso falar bem do Miguel. Todo mundo adora ele. Eu, inclusive. Já o Jorge, preciso defender”, explica, aos risos.

Sua atuação foi uma dos mais comentadas da novela e você só recebeu críticas positivas da imprensa e do público. O que muda na sua carreira depois desse trabalho?

Fico muito feliz com a boa repercussão do meu trabalho. Porque trabalhei com muito carinho. Aliás, trabalho com muito amor. Quero sempre colocar o máximo de humanidade em tudo. Quero realmente olhar no olho das pessoas que contracenam comigo, aprender com elas. Tenho muita fome pela minha profissão. Então é muito bom ver que sou querido pelo público.

Você trabalhou dobrado em “Viver a Vida”. Teve alguma técnica para decorar tanto texto?

As pessoas me perguntam muito isso. Leio como uma criança, que lê o texto e entra na história. Viro o Bastian, de “A História Sem Fim”, subo lá no dragão e entro no livro. Porque aí o negócio entra em outro lugar. Não é um mais um igual a dois. Não é tabuada. Não decoro as palavras. Entro ali como leitor. Depois penso: “ah, sou ator! Agora tenho que fazer esses dois aí”. Mas leio como uma criança, eu acho.

Em algum momento, ao longo da novela, você ficou assustado com a repercussão do Jorge e do Miguel?

Assustado? Não. O que assusta é o tamanho disso tudo. Sair e ter gente me fotografando pelas ruas. Falo: “gente, o que é isso?!” Me assusta virar capa de jornal e de revista. Nunca quis virar capa. Isso me assusta. Mas são ossos do ofício.

Por: Carla Neves

Nenhum comentário: