02 março, 2009

Teledramaturgia focada em periferia atrai o público


A realidade do tráfico e das disputas entre polícia e bandidos que ronda as periferias do Brasil sempre marcou os noticiários da TV. Mas há um bom tempo tem tido grande destaque também na teledramaturgia. Produções que abordam esse universo fazem sucesso na TV e não são poucas as novelas que abordam a temática da violência e da bandidagem.
Para haver interesse do público pela história, é preciso que as pessoas se identifiquem com o que veem. E é nisso que os autores apostam, como Marcílio Moraes, da Record. "A realidade do crime é muito intensa e visível hoje, principalmente nas grandes cidades. A sociedade quer ver isso sendo discutido com mais profundidade", defende o autor, que acrescenta: "a figura do bandido exerce bastante fascínio".
Depois de Vidas Opostas, focada na realidade do morro, Marcílio escreve o seriado A Lei e o Crime, que teve o número de capítulos ampliado devido ao sucesso de audiência, em torno de 23 pontos de média.
Mesmo a estreante Íris Abravanel, do SBT, percebeu a repercussão que esses temas ganham quando inseridos em um folhetim e, em Revelação, criou um núcleo de traficantes. O ator Felipe Cardoso, intérprete do criminoso Maçarico na obra, chama a atenção para a facilidade como os telespectadores recebem personagens como o que ele interpreta. "Infelizmente a figura do traficante é familiar atualmente. Se hoje há crianças no tráfico, é porque os traficantes são vistos como heróis", acredita Felipe. É uma opinião parecida com a de Heitor Martinez, que viveu o bandido Jackson em Vidas Opostas. "A resposta do público infantil me surpreendeu. Eu era seguido por crianças na rua", conta o ator.
Mostrar favela na novela, no entanto, não é algo tão novo assim. Em 1994, a Manchete exibiu Guerra Sem Fim, escrita por José Louzeiro. Na época o fundador e proprietário da emissora, Adolpho Bloch, foi contra a temática da trama. "Ele dizia que era uma aberração, que seus vizinhos não viam. Eu respondi que fazia novela para o povo e não para burguês. O Adolpho nunca mais reclamou porque a audiência foi boa", recorda Louzeiro.
Adolpho defendia que era melhor investir na fantasia, assim como a Globo, que não deixa de inserir a periferia em suas histórias, mas prefere focar o lado alegre do povo, sem retratar os problemas dessas regiões. Um bom exemplo são as novelas de Glória Perez, nas quais o "subúrbio alegre" costuma roubar a cena. Até Duas Caras, de Aguinaldo Silva, tinha a Portelinha, uma favela bonita, organizada e sem criminalidade.
Mas nem sempre foi assim, a emissora já investiu no gênero policial e na realidade nua e crua das ruas. A série Plantão de Polícia, exibida de 1979 a 1981, e a minissérie de Aguinaldo Silva Bandidos da Falange, de 1983, são alguns exemplos.
Mas nem sempre foi assim, a emissora já investiu no gênero policial e na realidade nua e crua das ruas. A série Plantão de Polícia, exibida de 1979 a 1981, e a minissérie de Aguinaldo Silva Bandidos da Falange, de 1983, são alguns exemplos.
Doc Comparato, colaborador das duas produções, ressalta no entanto que o sucesso desse trabalho não está ligado ao fato de serem mais ou menos realistas. "Se fosse assim, todo mundo ia gravar em favela. Mas não dá para ser só isso porque tudo é passageiro", avalia. Para Doc, a figura do bandido nem é tão fascinante assim. "Senão ninguém via filme de super-herói. O que garante o sucesso é a complexidade dos personagens", teoriza.

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