de Fernando Rezende
Não obstante, eles continuavam pelas paredes, sempre julgando, criando veredictos e falando com suas bocas sem voz. Olhos sem expressão, órbitas vazias, porém, expressivas observavam-me. Eu sentia-me estranho, estranho com esse tipo de solidão de invadiu-me a alma nesse julho que não terminava. Todos e todos os dias eu corria para a cozinha fétida, o som das varejeiras que permeavam o ambiente e olhava no calendário amarelado e sempre, que loucura, sempre era julho. Era o julho e lá fora, a rua não passava de papéis se movendo ao sabor do vento tardívago ou as latas de lixo correndo por ela no sussurro do frio noturno. Aqui, sempre era a solidão. Estranha e sem fim. Autoritária, sempre marcava hora para que nada fosse esquecido. Eu aquiescia aos seus desejos e encerrava-me no quarto, sendo julgado e culpado por tudo o que não acontecia, o que apodrecia e o que estava calado, junto da eternidade, da ilusão do tempo que se desfez para essa casa feito um papel molhado. Nada passa, nunca. Os meus dedos carcomidos doem, como-lhe a pele, unha e tudo. O som das varejeiras em seu festim interminável vem de todo o canto e às vezes, arremedando-as, dou risada disso embaixo da cama. Entretanto, quando percebo, enxergo os pés dos juízes, sempre saio correndo e vou ao porão. Minhas costas feridas, doendo, acomodo-me diante da cadeira e logo o meu avô chega, prato de sopa pendendo no colo, derrubando no cobertor de pêlos e a colher na mão. Sem a tremedeira. Olha-a, sem dizer nada, como sempre fiz. Ás vezes diz uma ou outra coisa, que leio em seus lábios, porém, sempre que ele se vai, volta para o mausoléu, eu vou para a cozinha e o julho continua, frio e impassível tal como os carrascos de minha tortura. Sempre é julho, e, nada como a solidão que sinto nesse julho, que é fria, dolorida e cheira a podridão. O espelho quebrado - retrato de minha mente - mostra o sangue pisado, velho e escorrido de meus ouvidos. Nada ouço, não ouvi os clamores. Os veredictos eram dados, eu ouvia, mas, quando decidi fazer o meu veredicto, e executá-lo, não puder deixar de fazer com que seus atenuantes fossem por mim desconsiderados. Ora, eu não ouvi! Não ouvi nada! É verdade que pude ler, pude ler os lábios, as expressões e em minha mente, construir um ouvido de imaginações, mas nada nem ninguém poderia forçar-me a ouvir. Ouvi os veredictos, as retaliações, mas não ouvi os morosos lamentos. O veredicto foi dado e executado, assim como a vida toda.
Não perca o próximo e último episódio de 'Veredictos'.
Neste próximo sábado (04) ás 23h40, aqui no BRTV!
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